Muçulmanos tentam tirar de cristãos o comando da cidade de Nazaré
Sagrada para cristãos e visitada por milhões de pessoas todos os anos, Nazaré, a maior cidade árabe de Israel, se prepara para as mais tensas eleições dos últimos 20 anos, espelho da crescente rivalidade entre cristãos e muçulmanos no local onde, segundo a Bíblia, Jesus passou a infância. O atual prefeito, o cristão Ramiz Jaraiysi, que tenta se reeleger para o quinto mandato consecutivo, enfrenta pela primeira vez a oposição de uma candidata muçulmana, a polêmica deputada Haneen Zoabi, do partido nacionalista árabe Balad. A eleição trouxe à tona a disputa religiosa interna – antes velada – pela cidade de 81 mil habitantes, onde 30% são cristãos, e os outros 70%, muçulmanos.
Há cem anos, Nazaré era majoritariamente cristã (75%). Mas, nas últimas décadas, a proporção foi invertida, fruto da gradual evasão de cristãos do Oriente Médio e de uma maior taxa de natalidade nas famílias muçulmanas. Isso tudo elevou a tensão na cidade, unida pela etnia, mas dividida pela religião.
O temor é justificado por alguns casos de intolerância religiosa. Em 1997, a prefeitura pretendia construir uma grande praça ao lado da Basílica da Anunciação (que marca o local onde, segundo a tradição cristã, Maria recebeu a notícia de sua gravidez) para abrigar peregrinos durante a planejada visita do Papa João Paulo II, em 2000. Mas muçulmanos protestaram e ocuparam o local, considerado também sagrado para o Islã. A construção aconteceria onde um sobrinho do mitológico comandante muçulmano Saladino foi enterrado. Em 2002, a situação se inverteu com os planos de construção de uma grande mesquita.
Opiniões divididas
Uma década depois, a situação parece ter se acalmado. Tanto que o prefeito Ramiz Jaraiysi, 62 anos, um engenheiro cristão no poder desde 1994, garante que foi eleito quatro vezes seguidas por cidadãos de ambas as fés. Mas, mesmo ele também demonstra preocupação quanto ao futuro.
“Religião não costuma ter papel na política de nossa cidade. Mas realmente nessas eleições há grupos fundamentalistas que estão usando a religião para alcançar objetivos políticos”, admite Jaraiysi.
O pleito acontece na próxima terça-feira (22). São cinco candidatos, três cristãos e dois muçulmanos. Um deles, Abu Ahmad Tawfiq, do Movimento Islâmico, concorre por uma legenda abertamente fundamentalista. Mas é a parlamentar Haneen Zoabi, 44 anos, que está dando trabalho a Jaraiysi. Radicalmente crítica ao governo de Israel, Zoabi ficou famosa ao embarcar, em 2010, no navio turco Mavi Marmara durante a chamada “Flotilha da liberdade”. Ela estava no Marmara quando comandos israelenses abordaram o navio em alto mal e mataram nove ativistas turcos.
Desde o episódio, a candidata acumulou pontos entre muitos árabes-israelenses. Se eleita, garante que vai lutar pelos direitos de Nazaré com passeatas e protestos em frente ao Parlamento.
A rivalidade entre cristãos e árabes em Nazaré está levando muitas famílias cristãs a deixarem o lugar. Muitas preferem morar na adjacente Nazaré Illit, de maioria judaica. Criada em 1957 para abrigar judeus, a cidade vizinha, mais bem cuidada e moderna, tem hoje 50 mil habitantes, 80% judeus e 20% árabes.
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Fonte: O Globo
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